Uma carreira comprometida com a transformação social
Uma carreira comprometida com a transformação social
Inspirada pelos pais desde muito jovem, a Professora Andrea Pinheiro construiu uma carreira na comunicação popular e educomunicação a partir da sua experiência de fé e relações humanas. Luis Henrique Marques *
A jornalista e professora Andrea Pinheiro Paiva Cavalcante, professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), tem uma intensa história de relacionamento com a comunicação popular e a educomunicação. Para ela, os primeiros "culpados" são seus pais. Seu pai foi fundador da Comissão Pastoral da Terra e sua mãe, fundadora da Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Ceará. “Toda a minha carreira tem muito a ver com essa convivência, desde cedo, com os movimentos sociais e a Igreja”, afirma. Ela explica que, quando decidiu estudar comunicação social, foi natural se envolver com segmentos populares, o que acabou definindo sua atuação como comunicadora profissional e, posteriormente, como professora e pesquisadora.
De fato, ainda formado em comunicação social, participou das Comunidades Eclesiais de Base (CEB) em Fortaleza. Nessa altura, produziu o diário Nosso piso , um projecto de comunicação em aliança com os padres combonianos, actividade que lhe permitiu as primeiras experiências na formação de comunicadores populares. A experiência avançou para o campo do rádio, cuja produção também esteve vinculada aos movimentos populares e sindicais. Andrea até trabalhou com rádios comunitárias para palestrantes.
Com o tempo, também participou das experiências dos jornais de bairro e da ONG Comunicação e Cultura, quando, mais uma vez, atuou na formação de comunicadores populares da periferia de Fortaleza. Andrea explica que, a partir dessas primeiras experiências, assim como de suas leituras iniciais, foram baseadas na comunicação dialógica. "Isso está de acordo com minha experiência como mulher cristã, que acredita na justiça social e na transformação do mundo por meio da comunicação baseada na fé."
Foi também com essa perspectiva que, na década de 1990, se envolveu na constituição da rede de comunicadores solidários da União Cristã Brasileira de Comunicação Social (UCBC) que atuava a favor da Pastoral da Criança no Brasil. “Devo muito a essa experiência coletiva de trabalho, porque me ajudou a aprender como contribuir para potencializar essas experiências, ampliando outras vozes e envolvendo outros sujeitos na produção de sua própria comunicação”.
Ele conta que, nesse período, viajou por todo o país, promovendo oficinas de radiocomunicação para lideranças da Pastoral da Criança, com quem conversou sobre a função social da comunicação e como esses comunicadores populares poderiam contribuir para ajudar no cuidado de seus filhos. . . Na verdade, Andrea enfatiza dizendo que sua trajetória profissional e acadêmica é sempre fruto de um trabalho coletivo construído por meio de relações com diferentes atores.
Ensino e pesquisa
Ainda na década de 1990, logo após a formatura, foi aprovada para assumir a função de professora substituta do curso de comunicação da UFC, quando ingressou na disciplina de Comunicação Comunitária. Era o "ensaio" do que se tornaria sua carreira docente. Ele conta que, na ocasião, sistematizou suas experiências e leituras para apresentá-las aos universitários a respeito da comunicação que acontecia na periferia. “Havia uma rede de comunicação muito forte, articulada entre os movimentos, mas não tinha visibilidade fora desse circuito”, explica.
Mas foi em 2000 (casada e com o primeiro filho) que Andrea começou definitivamente a carreira de professora em uma universidade particular. Embora tenha trabalhado no curso de Publicidade, a professora continuou incentivando e orientando seus alunos a produzirem produções voltadas para a comunicação comunitária e popular, principalmente na área de rádio e com foco nos direitos da criança.
É também a partir desse momento que ela adquire engenho como pesquisadora. Atualmente coordena o Laboratório de Pesquisa em Crianças, Jovens e Relações com a Mídia, que existe há 15 anos. Entre as iniciativas do grupo -que reúne pesquisa e extensão- está o trabalho desenvolvido com a rede CUCAs (Espaços Culturais para Jovens), cuja abordagem educomunicativa é realizada no uso da internet, como trabalhar com conteúdos contra discurso de ódio.
A partir de suas experiências e aprendizados, a professora Andrea Pinheiro destaca a necessidade de pensar a comunicação inclusiva em todas as direções. “Então, em uma comunidade onde há católicos, evangélicos e religiões de origem africana, é preciso trabalhar com todos esses segmentos, valorizando a riqueza que cada um desses grupos aprende com eles e não impõe sua visão, de tal forma forma que sua perspectiva religiosa ”, argumenta. “Trabalhamos mais na escuta da comunidade, produzindo e construindo juntos todos esses processos que estão na base da educomunicação, dessa comunicação mais horizontal, que pressupõe diálogo e participação”.
Consulte, nos próximos artigos desta seção, algumas das atividades educomunicativas coordenadas pela Professora Andrea Pinheiro.
* O autor é jornalista, editor-chefe da revista Cidade Nova e secretário da SIGNIS Brasil.